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"Eu não vejo 2021 com otimismo", diz Luiz Barsi em entrevista ao Estadão

Piora da situação macroeconômica, demora na imunização contra a covid-19 e política capenga tiram ânimo do minoritário mais relevante da B3

O maior investidor individual do Brasil está muito preocupado com 2021. Luiz Barsi, que montou na década de 70 sua carteira previdenciária baseada em ações, enxerga o próximo exercício como um “copo razoavelmente vazio”. Faltam reformas estruturais, privatizações de gigantes mal geridos e hombridade na política brasileira.

Para Barsi, o País carece de uma cultura de investimento. “A maioria das pessoas que chega à Bolsa agora só quer fugir da renda fixa. Assim que os juros voltarem a subir, elas saem do mercado”, afirma o investidor de 81 anos, que se apresenta como um “pequeno dono” das companhias. “Não especulo com as ações, confio nas empresas onde invisto”.


E-Investidor: 2020 será marcado na história mundial como o ano da pandemia. Ela assustou o senhor?

Luiz Barsi: A doença não me assustou. Ela criou oportunidades na bolsa. A pandemia atingiu em cheio as empresas de alguns setores ligados à movimentação de pessoas, como aviação, turismo, eventos e, mesmo no setor de saúde, serviços como marcação de exames. As crises econômicas, em geral, são muito parecidas. Mas nesta houve um componente psicológico. É o que explica, por exemplo, a interferência nas ações da Sabesp (SBSP3-1,89). Alguém deixa de beber água por causa da pandemia? O investidor precisa avaliar as ações pelo critério da oportunidade, pelo que representa o negócio da empresa, não pelo índice tal, ou pelo que o governo diz.


A demora na imunização indica que muitas empresas terão que continuar se reinventando. O aprendizado de 2020 é suficiente para o sucesso delas em 2021?

Eu não vejo 2021 com otimismo. Um número grande de pequenos empreendedores quebrou e não encontrou apoio nos bancos. O País precisa voltar a gerar empregos. Mas reformas muito importantes para destravar a economia têm sido engavetadas. As empresas procuraram se adaptar à nova realidade, mas a doença persiste. Precisamos aguardar uma vacina, mas a verdade é que ninguém sabe quando tudo voltará ao que era.


Além das reformas e privatizações paradas, o governo não tem ajudado em relação ao teto de gastos e ao controle da dívida pública. O investidor deve ver tudo isso como copo meio cheio ou meio vazio?

Eu vejo o copo razoavelmente vazio. Os políticos, em geral, colocam o interesse pessoal acima do interesse da nação, o que eu lamento profundamente. Tomando como exemplo os dois presidentes, da Câmara e do Senado [Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre], que tentaram driblar a Constituição para garantir sua reeleição ao cargo. Talvez o investidor brasileiro não preste atenção nisso, mas o investidor estrangeiro dá muita importância, porque indica quebra de regras. Ele pensa: ‘Por que eu vou investir neste País, se as regras lá não são estáveis?’.


O governo anunciou que planeja fazer oito leilões de empresas públicas em 2021, entre elas, Correios e Eletrobras. Podem ser boas opções para o investidor? Eu ouço essa história de privatização desde que eu era nenê, e olha que já tenho 81 anos! A verdade é que os políticos prometem o que não podem cumprir, eles têm uma expertise em deixar as decisões na prateleira. Muitos têm ojeriza à privatização, porque significa tirar parte do seu poder. Torço para as empresas serem vendidas, o Estado é um gestor incompetente.



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