*Artigo do Conselheiro Vicente de Paula Oliveira
A Educação Financeira-EF, ao proporcionar regras de relacionamento das pessoas com o
dinheiro, busca tornar os cidadãos conscientes de suas oportunidades e possibilidades no
mundo das finanças. Ela pode ser definida como um conjunto articulado de conceitos e
práticas para a gestão dos recursos financeiros de pessoas e famílias. Propõe-se a trazer
para os interessados conhecimentos e habilidades para bem gerir o patrimônio pessoal ou
familiar, visando à conquista e o desfrute de uma vida com qualidade e sustentabilidade, onde o equilíbrio financeiro é um dos objetivos estratégicos.
Situando-se inicial e pedagogicamente do lado do dispêndio, a Educação Financeira procura demonstrar a importância e a necessidade da adoção de sadios hábitos de consumo, em contrapartida ao gasto por impulso, pernicioso e de consequências imprevisíveis. O outro lado, o das receitas, das rendas, da formação de reservas para o futuro, da eventual aplicação de poupanças, é igualmente importante e, sobre ele, da mesma maneira, todos precisamos refletir, ponderar e agir.
O receituário da EF, envolvendo planejamento financeiro e orçamento doméstico/familiar,
consumo consciente e responsável, uso racional do crédito, cuidado redobrado com juros,
utilização do cheque especial e pagamento parcelado de cartões de crédito, passa, também, pela obtenção de habilidades no trato com o mercado financeiro e de capitais.
É certo que existe, por parte do cidadão brasileiro médio, uma carência de conhecimento e de instrução para lidar com o dinheiro. Ele, na media, desconhece as características, os riscos e as oportunidades em cada decisão a ser tomada, que envolva recursos monetários. A capacidade de análise dos riscos, das oportunidades e dos ganhos de cada alternativa de
aplicação de recursos -- para conhecer e negociar crédito para compras, rendimentos de
investimentos financeiros, negócios em bolsa, constituição de fundo de previdência
complementar, contratação de apólices de seguro, formação e manutenção de reservas para
emergências – merece por isso -- atenção cuidadosa e redobrada. As técnicas para tanto são
variadas e, muitas vezes, complexas, mas a atitude deve ser uma só: as pessoas devem
fazer o dinheiro trabalhar para elas, e não ao contrário.
Com o propósito de preparar o cidadão para interagir no Sistema Financeiro Nacional-SFN, o Estado brasileiro instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira-ENEF, que junta
numa mesma ação o próprio Estado e a Sociedade. O Banco Central, que tem o dever legal
de regulamentar os agentes do mercado financeiro, integra o Comitê Nacional de Educação
Financeira-CONEF, e nesse sentido, exerce um duplo papel. O de impor as regras para o
exercício das atividades de cada agente e o de proteger as pessoas que trabalham com eles. Ao lado disso, como autoridade maior no mercado financeiro, ajuda a tornar mais incisivas e mais amplas as iniciativas de promoção e disseminação da educação financeira e das oportunidades de aprendizado da população.
Em São Paulo, por sua vez, tanto na Assembleia Legislativa, como na Câmara Municipal
foram aprovados projetos de lei para implementação de educação financeira nas escolas
públicas do Estado. Na ALESP, o Projeto de Lei no. 1011/2019, aprovado em 17 de
novembro de 2021, prevê a atividade nos ensinos fundamental e médio. Já na Câmara
Municipal de São Paulo, com o objetivo de transmitir conceitos básicos de educação
financeira para crianças do ensino fundamental, os vereadores aprovaram, em 3 de maio de
2021, o Projeto de Lei no. 628/2017, que institui o Programa de Educação Financeira Infantil
no âmbito da rede municipal de ensino. Essas iniciativas dão conta das preocupações do
legislador paulista com a formação financeira dos jovens, ao instituir no currículo escolar da
rede pública estadual e municipal da capital a disciplina “Educação Financeira”, visando
fornecer aos alunos o estímulo para a administração racional dos recursos pessoais, bem
como a realização de escolhas adequadas.
Sugere-se aqui que o público alvo da EF deva ser aquele composto de pessoas com idade a
partir dos 15 anos e, daí, para diante. A escolha dessa idade-base reside no fato de ser
aquela em que os jovens estão ingressando no ensino médio, quando começam a se
preocupar com dinheiro e sua utilização.
Da mesma maneira, o PROCON de São Paulo, com base nas prerrogativas que lhe concede
o Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal no. 8078/90) vem se posicionando em favor
dos superendividados, ajudando-os a superar os infortúnios do estresse financeiro, cumprindo assim, ainda que na retaguarda, seu compromisso com a EF.
Tudo isso para quê? Para aumentar a difusão do conteúdo da EF, ampliando,
consequentemente, o conhecimento dos seus conceitos, a disseminação de suas práticas
com o propósito de tornar as lições da EF acessíveis a todos. Mas, particularmente para
ensinar que o dinheiro deve trabalhar para as pessoas e jamais ao contrário, pois, quando
isto acontece, elas se convertem em escravos das circunstâncias e, com isso, passam a atuar
de maneira inversa àquela que deveriam.
Um projeto Educação Financeira, que poderia ser abraçado tanto pelo Corecon-SP, como
pelo Sindecon-SP, deve estar configurado na forma de “lições”, estruturadas em linguagem
acessível e dirigidas ao cidadão comum, ao chefe de família e, principalmente, aos jovens,
focadas em temas inerentes aos princípios fundamentais da Economia e, particularmente, às
finanças pessoais.
Compondo uma estrutura programática simples, mas objetiva, deve destacar, entre outros, os seguintes aspectos: Noções fundamentais de Economia; Produto Nacional, Renda, Consumo, Poupança, Investimento; O mecanismo de funcionamento do sistema econômico; O Sistema Financeiro Nacional, papel do Banco Central e dos agentes que o compõem; O fenômeno da inflação, os Índices de Preços; Definição, conteúdo, propósitos e alcance da Educação Financeira; Educação Financeira para todas as idades, inclusive para as crianças que recebem mesadas; Como lidar com o dinheiro; ele deve trabalhar paras as pessoas e não as pessoas trabalharem para ele; Importância e necessidade do planejamento financeiro e do orçamento doméstico/familiar; Consumo consciente e responsável; Poupança, objetivos e metas pessoais e familiares. Recursos para emergências, para férias e viagens (dentro do país e ao exterior), aquisição de imóveis ou de bens duráveis, formação no exterior, outros objetivos e metas; Uso racional do crédito, cuidado com a armadilha dos juros, utilização do cheque especial e pagamento parcelado de cartões de crédito; A inadimplência e seus resultados nefastos para o cidadão e para a economia; Obtenção de habilidades no trato com o mercado financeiro e de capitais; Aplicações financeiras; Planos de complementação de aposentadorias.
Os aspectos “técnicos” da EF, elencados acima, divulgados na forma de “lições”, deverão
estar acompanhados de casos, exemplos práticos do dia-a-dia. Assim, por exemplo, tais
casos irão abordar temas como economizar mais e gastar menos, no dia-a-dia e na
programação das férias familiares ou, ainda, na racionalização e diminuição dos gastos com
os veículos da família, como ensinar as crianças a lidar com suas mesadas, etc.
(*) Economista – FEA-USP
Excelente. Well done!!!!!
Fantástico ! Todos precisamos e o principal sao os jovens ja ir s preparando a partir de 15 Anos