Estou muito preocupado com a família das galinhas
genuinamente caipiras. Jamais imaginaria que elas e seus ovos
estariam em risco de sumir das mesas dos apreciadores; eu, um
deles.
Segundo nutricionistas, a colina existente na gema do ovo é
um forte aliado no combate do Alzheimer. Dizem, também, que os
ovos caipiras têm mais vitaminas A, D e E em relação aos de
granja, porque produzidos por galinhas felizes, assim consideradas,
pois vivem soltas, namoram, tomam sol, chuva, ciscam, andam para
lá e para cá, coisas que não existem na granja tradicional.
O tempo estimado para o ponto de abate é de mais de seis
meses, e para alimentar estas aves, nesse período, gasta-se mais
ou menos um saco de milho.
O que me chama a atenção, porém, é que a simples elevação
do preço do milho, principal alimento das galinhas, implica o
sacrifício antecipado dessas criaturas tão felizes.
Como é sabido, no campo, o mercado se comporta como nos
tempos dos réis, unidade monetária utilizada desde a colonização
do Brasil até meados do século passado, época em que o escambo
era predominante na zona rural.
Atualmente, na roça, a lei da oferta e da procura não encontra
o seu ponto de equilíbrio.
Vejamos: a cotação de uma galinha caipira equivale a um saco
de milho, mas, para a tristeza dos galináceos, nos últimos meses o
saco de milho passou dos cerca de R$ 40,00 para mais de R$
100,00.
O custo de manter as penadas no quintal não cobre o preço de
venda; vender as aves a R$ 100,00 afasta o consumidor, mesmo
aquele fiel ao seu sabor.
Diante desse cenário, o galinicultor não consegue sustentar a
produção artesanal das galinhas pelo tempo estimado e elas,
infelizmente, estão indo mais cedo para o sacrifício, pois, na lição
do jornalista, escritor e humorista, Millôr Fernandes, acerca da
inflação: onde comem dois, come um. Ai, ai, ai… Pobres galinhas
felizes, a inflação não vai salvá-las da panela!
Roberto Koga, conselheiro do Conselho Regional de Economia, SP.
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